Matéria do Diário da Região
Confira matéria na íntegra, publicada originalmente no Jornal Diário da Região dia 20 de outubro de 2017.
Começou a ser utilizada em Rio Preto e foi implantada em dois pacientes uma válvula cardíaca com durabilidade maior graças a um tratamento anticalcificante. A tecnologia foi desenvolvida pela Braile Biomédica e o tempo de vida útil da prótese foi aumentado de em média 12 a 15 anos, já considerado grande, para 18 a 20 anos graças aos aminoácidos e à oxidação.
Essa melhoria pode reduzir o número de cirurgias a que o paciente cardíaco tem que ser submetido ao longo da vida. A válvula é produzida com pericárdio bovino. Antes de sua confecção, passa por tratamento que dura 16 dias, três deles destinados somente ao anticalcificante. Sua produção envolve trabalhos manuais semelhantes aos feitos por uma costureira. O tamanho a ser implantado em cada paciente varia conforme altura e peso da pessoa.
Quem tem falência das válvulas devido à calcificação natural tem indicação para receber o implante. Geralmente o problema aparece em pacientes com histórico de febre reumática e idosos. "Com o aumento da sobrevida, as pessoas vão começar a fazer mais diagnóstico por falência valvar por calcificação, por ruptura pela própria idade das pessoas", acredita o cirurgião cardíaco Marcelo Soares.
Válvula desenvolvida pela Braile Biomédica é produzida manualmente com pericárdio bovino
O cálcio "endurece" a válvula, tanto a natural quanto a implantada, e prejudica seu funcionamento. A função da membrana é impedir o refluxo de sangue no organismo, garantindo que ele tenha apenas um sentido, o que favorece a eficácia da distribuição de oxigênio e nutrientes.
O novo tratamento está disponível para as válvulas aórticas e mitrais. A aórtica fica na artéria aorta e barra o refluxo de sangue para o ventrículo esquerdo no momento do relaxamento do coração. Já as mitrais evitam o refluxo de sangue do ventrículo para o átrio quando o órgão se contrai.
Segundo a cardiologista Valéria Braile, foram feitos estudos que apontaram onde o cálcio se deposita na membrana. "A intenção é anular, eliminar esses sítios. A novidade desta válvula é que ela é tratada de forma convencional, que já vinha sendo tratada, mais o tratamento anticalcificante."
Os aminoácidos e a oxidação diminuem o depósito de cálcio na membrana, mas ele continua acontecendo. "Se não tiver nenhum pouco de calcificação, nenhum pouco de amarra, o produto se dissolve. Tem que ter o tanto certo, que não deixe o produto rígido. A prótese perde a função dela, que é ser uma válvula. Tem que abrir e tem que fechar. Se ficar muito calcificada, fica dura, se ficar muito mole, rasga", aponta Valéria.
Ela lembra que, ao longo da história da cirurgia cardíaca, os pacientes chegaram a tomar anticalcificante para prolongar a vida útil da prótese, mas aí eles desenvolviam osteoporose. "A coisa é longa e demorada. Precisa de bom senso do cirurgião, da comunidade científica, de conversar com o paciente", fala sobre os avanços da medicina.
Valéria afirma que o pericárdio bovino é um bom material pois não é rejeitado pelo organismo como um corpo estranho e não trombosa, ou seja, não forma coágulo como as próteses metálicas.
A cirurgia para implantação da prótese dura de quatro a quatro horas e meia e é feita com o paciente inconsciente. Sua circulação é feita por máquinas que fazem o sangue girar porque é preciso parar o coração e o pulmão. Depois do procedimento, ele não precisa tomar remédios para o implante, apenas aqueles para tratar problemas de saúde como hipertensão, colesterol e diabetes. Como em todos os casos de doença cardíaca crônica, é necessário fazer acompanhamento para o resto da vida. A tecnologia anticalcificante, por enquanto, está disponível para procedimentos de implante de válvula feitos pela rede particular de saúde e também por convênios.